“Visitando Camille Claudel” reestreia marcada por muita emoção
- Revista do Villa
- 5 de abr.
- 3 min de leitura

Na noite de ontem, a atriz Adriana Rabelo subiu ao palco do Teatro Laura Alvim para um reencontro muito especial, a sua Camille Claudel que está de volta para uma curta temporada durante o mês de abril.
O espetáculo que tem texto e direção de Ramon Botelho é uma obra prima. A interpretação de Adriana arrebata a platéia ao longo do monólogo em que é possível sentir cada dor, angústia e desespero da escultora que viveu entre o final do século XIX e início do XX (1864–1943).
A peça, livremente inspirada na vida e na obra da genial escultora francesa Camille Claudel, segue o fluxo de memória da artista, reinventando de forma poética as passagens marcantes da sua vida: a infância, o auge em Paris, a conturbada história de amor com Rodin, o isolamento e sua interdição. Camille se atreveu a ser escultora, profissão estritamente masculina na época; sofreu com o preconceito da sociedade patriarcal, e acabou internada involuntariamente em um hospício durante 30 anos, de onde jamais saiu.
Apesar da história de Camille Claudel se passar entre o final do século XIX e início do XX, os temas que abordamos no espetáculo continuam dolorosamente atuais. Igualdade de gênero, saúde mental, o reconhecimento da mulher no mercado de trabalho, luta antimanicomial. Esses são debates que ainda precisamos ter.
E há algo ainda mais profundo: o machismo estrutural. Camille não foi silenciada apenas por sua relação com Rodin ou por conflitos familiares. Ela foi vítima de um sistema que não aceitava que uma mulher fosse tão talentosa quanto – ou mais – do que os homens. O mundo da arte no século XIX, como tantas outras áreas, era dominado por uma lógica masculina que restringia o acesso das mulheres, negava-lhes reconhecimento e autonomia.

O machismo estrutural faz com que as mulheres precisem sempre provar mais, resistir mais e se justificar mais do que os homens. Se uma mulher demonstra ambição e desejo por reconhecimento, coloca sua opinião de forma assertiva é taxada de exagerada, nervosa ou descontrolada. Se desafia as regras, é punida. Camille foi punida com o isolamento e o esquecimento. Seu internamento por 30 anos em um asilo, mesmo sem diagnóstico psiquiátrico claro, não foi apenas um destino cruel, mas um reflexo desse sistema que prefere calar as mulheres a permitir que ocupem o espaço que merecem.
Levar Visitando Camille Claudel ao palco do Teatro Laura Alvim não é apenas contar uma história. É provocar reflexão. É mostrar como esse machismo estrutural, que destruiu a vida de Camille no século XIX, ainda ecoa nas dificuldades que as mulheres enfrentam hoje para serem respeitadas e reconhecidas em suas carreiras e escolhas. É falar sobre a mulher que tem talento, inteligência e autonomia, mas que encontra barreiras para exercer sua arte e sua liberdade. É um lembrete de que, mesmo hoje, as vozes femininas ainda precisam lutar para não serem silenciadas.

Com produção de Carangola Produções e Rotunda e Bambolina a peça fica em cartaz até o dia 27 de abril, sempre às sextas e sábados, às 20h e domingo, às 19h.
Hoje, após o espetáculo haverá um bate papo com Pedro Cattapan, psicanalista e professor da UFF e UFRJ e autor do livro “Psicanálise, Criatividade e Depressão”.
Revista do Villa || Alessandra Dayrell
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