Nesta edição continuaremos nossa viagem cronológica sociedade baiana no século XIX.
1859 – Visita do Imperador
Os três mais ilustres membros da família de Bragança no Brasil visitaram a Bahia em momentos e circunstâncias diferentes, mas, somente Dom Pedro II fez um diário de viagem, com anotações de seu próprio punho, registrando as suas impressões no dia-a-dia de sua longa jornada, em 1859, pelas províncias do Norte.
Seu pai Dom Pedro I, já estivera antes na Bahia, em 1826, com a esposa a Imperatriz Leopoldina e a amante Domitila - Marquesa de Santos - juntas. O soberano não teve nenhum escrúpulo em submeter a sua mulher a tamanha humilhação. Foi uma visita política, permaneceu apenas 19 dias e não fez qualquer registro.
Antes, em 1808, o Príncipe Regente Dom João VI, demorara-se um mês e quatro dias em Salvador como citamos na matéria anterior, quando aqui fundou a Primeira Faculdade de Medicina do país, enquanto aguardava a Corte se estabelecer no Rio de Janeiro.
Dom Pedro II demorou na Bahia menos do que seu avô, mas, se permitiu uma visita mais ampla. Aportou em Salvador em 06/10/1859, ventava muito, anotou no seu diário que não sabia como não se constipou e descreveu as ruas como “estreitas e enlameadas” e a iluminação das casas como “bonitas e principalmente a do Forte do Mar ”. Na hora de se recolher admirou o luxo de seu quarto: “nunca vi tanta prataria”.
No dia seguinte o Imperador visitou o Arsenal da Marinha e a Catedral, onde compareceu ao “Te Deum” na Catedral, cujo segundo ele, “a música foi péssima”, e assistiu o sermão do Cônego Fonseca Lima que lhe pareceu “monótono” e com “elogios de mais”.
Em seguida visitou igrejas e bebeu “agua boa”. No dia anterior queixara-se do gosto de ferro da água que lhe foi oferecida. Á noite foi ao Teatro São João, onde assistiu à uma Opera.
Na sequência da viagem visitou os sítios históricos da Guerra da Independência, a Faculdade de Medicina, o hospital e asilo dos expostos da Santa Casa de Misericórdia que mandou confeccionar uma cadeira de jacarandá com emblema da instituição em alto relevo para o Imperador sentar.
Visitou também conventos, quarteis, prisões, assistiu aulas e enfadonhos discursos e visitou a Biblioteca Pública. Em 28 de outubro o Imperador foi ao Bonfim, admirou a “bela alameda de palmas dendê” da avenida dos Dendezeiros.
Fez inúmeras e vultuosas doações, uma delas para o arcebispo a quem solicitou repartir entre os vigários da cidade, para o asilo dos meninos abandonados da Santa Casa de Misericórdia, para funcionários de algumas instituições.
A sua visita à Bahia, não se limitou à capital, andou pelo recôncavo e se permitiu declarar para si mesmo, já que o diário de viagem era íntimo, quando lhe desagradava, bajulação excessiva ou se entediava com enfadonhos e chatos discursos e oratórias sem graça. Parte do diário do Imperador se perdeu, deixando de registrar alguns dos momentos por ele vividos na Bahia. Um diário rico em informações e impressões, com um toque de bom humor e ironia, sempre que as circunstâncias exigiam. (Imagem 5)
1864 - Começou a Guerra do Paraguai. Os baianos tiveram grande participação na solução do conflito.
Com a participação dos “Zuavos Baianos”, que foi um batalhão de soldados negros e mestiços que se alistaram nos Voluntários da Pátria e lutaram na Guerra do Paraguai; conflito que ocorreu entre os anos de 1864 e 1870. A guerra envolveu o Paraguai e uma aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai.
O termo "zuavo" deriva das unidades de infantaria ligeira do exército francês, caracterizadas pelo uso de uniformes exóticos e coloridos, inspirados nas vestimentas dos soldados norte da África e do Oriente Médio. No caso dos Zuavos Baianos, eles adotaram esse nome em referência aos zuavos franceses, mas adaptaram seus uniformes ao contexto e clima do Brasil.
O batalhão Zuavos Baianos se formou com negros livres e escravizados. Muitos desses homens enxergaram na oportunidade de servir ao exército uma chance de alcançar liberdade e conquistar algum bem.
Juntamente com outras tropas brasileiras, enfrentou inúmeras dificuldades ao longo da guerra, como doenças, fome e condições precárias no campo de batalha. Os Zuavos participaram de batalhas importantes, como a Batalha de Tuiuti, e tiveram um papel significativo no conflito.
Segundo Jolivaldo Freitas, a participação dos Zuavos Baianos e de outros negros na Guerra do Paraguai é frequentemente negligenciada ou esquecida na história oficial do Brasil. A contribuição desses homens muitas vezes não é reconhecida, apesar de sua valentia e dedicação à causa nacional.
Em 1865, o baiano Ângelo Moniz da Silva Ferraz era o Ministro da Guerra e negociou a rendição dos paraguaios em Uruguaiana.
O Baiano Zacarias de Góis e Vasconcelos foi Presidente do Conselho de Ministros, de 1866 a 1868, durante a Guerra. Foi o baiano José Maria da Silva Paranhos, quem assinou o acordo de paz, pondo fim à Guerra, em 1870.
De grande destaque, foi a heroína baiana Anna Nery, como enfermeira no Corpo de Saúde do Exército.
O baiano André Rebouças, amigo íntimo da família Imperial, serviu como engenheiro militar durante a Guerra. Além de suas realizações como engenheiro, destacou-se como um abolicionista fervoroso. Ele usou sua influência e posição privilegiada na sociedade para advogar pela emancipação dos escravos.
Na próxima matéria chegaremos à tão aguardada Abolição da Escravatura em 1888.
Não percam!
Fontes: Arquivo Nacional, IPHAN e UFBA.
André Conrado - colunista da Revista do Villa
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