A fundação da cidade de Salvador, na Bahia, está intimamente ligada ao governo de Portugal e ao processo de colonização do Brasil.
Salvador foi oficialmente fundada em 29 de março de 1549 pelo então governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, enviado por Dom João III, rei de Portugal, para estabelecer a primeira capital do Brasil.
Antes da vinda de Thomé de Souza, havia um pequeno povoado, possivelmente onde hoje temos o bairro da Graça, em que conviviam portugueses, que aqui aportaram com Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e indígenas da tribo dos Tupinambás.
Havia, também, outra pequena povoação, mais para o litoral da Barra, ocupada pelos remanescentes do grupo que veio com Francisco Pereira Coutinho, único donatário que a Capitania da Bahia teve, e por indígenas, afinal eles estavam espalhados em aldeias por todo o território colonial.
A escolha de Salvador como capital foi estratégica para o Reino de Portugal.
Localizada em uma baía abrigada e de fácil defesa, a Baía de Todos os Santos, a cidade foi planejada para ser o centro administrativo, político e militar da colônia. Salvador foi concebida para ser um ponto de controle das rotas comerciais e um bastião contra invasões estrangeiras, além de ajudar na defesa contra as constantes ameaças de indígenas e piratas.
A cidade foi planejada por engenheiros portugueses, com ruas traçadas em uma estrutura urbana que refletia o modelo de "cidade-fortaleza". Em algumas cidades fala-se do marco zero, ou seja, o local original, dos primórdios delas, mas em Salvador nós o chamamos de mancha matriz, o núcleo inicial, que corresponde ao trecho entre a Praça Municipal e a Praça Castro Alves.
Mancha Matriz de Salvador e Capela da Conceição da Praia (ao centro) - ano 1625
Salvador ficou claramente dividida em dois níveis. Na Cidade Baixa, uma pequena faixa de terra abaixo da encosta coberta por densa mata, uma pequena estrutura portuária, baterias com canhões para defesa da ribeira, alojamentos dos soldados (barracões ou tendas), alojamentos para os escravizados (quarentena), armazéns para a guarda de mercadorias e mantimentos, e a Ermida de Nossa Senhora da Conceição da Praia pequenina construção de taipa.
Na Cidade Alta, uma cidadela protegida onde foram instalados os representantes da Coroa Portuguesa, e construídos o Palácio do Governo-Geral, a Casa de Câmara e Cadeia, ambos na Praça Municipal, e a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, próxima à Porta de Santa Luzia, e marcaram-se os arruamentos para futuras edificações civis.
Desde o início, Salvador tornou-se um importante centro de comércio, especialmente no que se refere à exportação de açúcar, produto que se tornaria a principal riqueza da colônia.
A fundação de Salvador marca também o início de uma administração centralizada do Brasil, com Tomé de Sousa implementando políticas e infraestruturas que consolidariam o controle português sobre o território.
Administração e Governo
Como sede do governo-geral, Salvador abrigava as principais instituições administrativas e judiciais do Brasil. Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral, trouxe consigo uma comitiva de autoridades, incluindo o ouvidor-geral (responsável pela justiça), o provedor-mor (encarregado das finanças), e o capitão-mor (chefe militar), que estabeleceram as bases da administração colonial. A presença de uma administração organizada atraiu uma população crescente de colonos, burocratas e missionários, contribuindo para o crescimento da cidade.
Economia e Comércio
Salvador rapidamente se tornou um centro econômico vital, especialmente devido ao cultivo da cana-de-açúcar, que era o principal produto de exportação da colônia. A cidade tinha um porto estratégico na Baía de Todos os Santos, facilitando o escoamento do açúcar para a Europa e a importação de escravizados africanos e mercadorias. O desenvolvimento de engenhos de açúcar ao redor da cidade impulsionou a economia local e reforçou o papel de Salvador como um elo entre a colônia e a metrópole portuguesa.
Cultura e Religião
A cidade também foi um importante centro religioso. Com a chegada dos jesuítas junto a Tomé de Sousa, foram estabelecidas escolas e igrejas que desempenharam um papel crucial na catequese dos indígenas e na educação dos colonos. A Catedral de Salvador e o Colégio dos Jesuítas tornaram-se instituições centrais para a vida religiosa e cultural da cidade.
Influência Política e Militar
Como capital, Salvador também desempenhou um papel crucial na defesa do território brasileiro. A cidade foi a base para as operações militares portuguesas na região e para a defesa contra invasores estrangeiros, como os holandeses, que tentaram conquistar a cidade em várias ocasiões no século XVII.
Declínio e Transferência da Capital
Embora tenha prosperado como capital, Salvador começou a perder parte de sua influência com o desenvolvimento econômico de outras regiões do Brasil, especialmente com a descoberta de ouro nas Minas Gerais. Em 1763, a capital foi transferida para o Rio de Janeiro, mais próxima das áreas de mineração e da costa sul, que estava se tornando mais central para os interesses econômicos de Portugal.
Mesmo após a transferência da capital, Salvador manteve sua importância como um dos principais centros econômicos e culturais do Brasil colonial e continua sendo uma cidade de grande relevância histórica e cultural.
Na próxima matéria, falaremos dos impactos à cidade após perder o título de capital do Brasil.
Fontes:
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia- Evolução Física de Salvador.
Andre Conrado - colunista da Revista do Villa
Meu amigo mandando benzaço SEMPRE!!!
Que maravilha voltar a ler esta coluna tão rica de história!
Adorei!