Produtos portugueses conquistam mercados internacionais
- Ígor Lopes
- há 8 horas
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A região Centro de Portugal é rica em produtos de alta qualidade que têm um grande potencial de internacionalização. Entre os produtos que merecem destaque estão os vinhos, os azeites, os queijos, os enchidos e as frutas. Além disso, os produtos biológicos e gourmet, que têm uma ligação forte com a tradição e a autenticidade da região, são altamente valorizados nos mercados internacionais. O mel e os produtos apícolas, as leguminosas e os frutos secos também têm ganhado crescente reconhecimento fora de Portugal. Este movimento de internacionalização é cada vez maior e faz com que as PME portuguesas, sobretudo do Interior, apostem em levar os seus produtos e serviços a mercados internacionais, como a Suíça, além da América do Norte, do Sul e demais países europeus.
Diante deste cenário, especialistas afirmam que “a internacionalização das empresas do Interior de Portugal representa um desafio estratégico e uma oportunidade de crescimento num mercado global cada vez mais competitivo”. Um trabalho realizado de forma “contínua e com proximidade” pela Associação do Cluster Agro-Industrial do Centro (Inovcluster), sediada em Castelo Branco, onde diversas empresas têm conquistado mercados internacionais e resultados importantes.
“A Inovcluster apoia a internacionalização das empresas do setor agroalimentar através de diversas iniciativas e de projetos financiados. Entre as principais ações, destacam-se a participação em feiras internacionais, organização de missões inversas e organização de workshops de capacitação. Para além da capacitação das empresas na preparação para os mercados externos, também é feito o acompanhamento em ações internacionais, fornecendo-lhes ferramentas e estratégias necessárias para a internacionalização, incluindo a promoção digital e a especialização em nichos de mercado, como produtos naturais e biológicos”, afirmou Christelle Domingos, diretora-executiva da Inovcluster, que garantiu que “as empresas que têm internacionalizado os seus produtos com o apoio da Inovcluster são maioritariamente PME do setor agroalimentar localizadas na região Centro de Portugal”, beneficiando de projetos como o EXPORT.i9, que visa “promover o crescimento das PME de pequena dimensão para mercados externos”.
Relativamente à importância de mercados internacionais, como a Suíça, Brasil, Luxemburgo e Macau, Christelle Domingos confessa que a Inovcluster “não tem trabalhado de forma aprofundada estes mercados”, porém, no passado, contou com “alguns projetos que se direcionavam para estes mercados”.
“A Inovcluster tem uma abordagem estratégica na seleção de mercados-alvo para a internacionalização que se baseia em estudos de mercado, na identificação de oportunidades e tendências e na manifestação de interesse das empresas portuguesas do setor agroalimentar. A importância de cada mercado é avaliada com base no potencial de crescimento, na procura por produtos específicos e nas relações comerciais existentes entre Portugal e esses países. Recentemente temos tido algumas ações isoladas nestes mercados, como, por exemplo, a participação na Feira Internacional de Negócios (FIN) Brasil”, disse esta responsável.
Produtos portugueses para “todos os gostos”
A nossa reportagem entrevistou Manuel Moreira, de 59 anos, diretor de Exportação da Ramirez & Cª (Filhos), S.A., que atua no ramo da produção e comercialização de conservas de peixe, com sede na Freguesia de Lavra, concelho de Matosinhos, Portugal.
Natural de Caracas, Venezuela, e filho de imigrantes, este cidadão conquistou a nacionalidade lusa aos 21 anos de idade. Hoje, atua numa empresa que exporta os seus produtos para mais de 55 mercados, cobrindo vários continentes, como o americano (norte, centro e sul), Europa, África, Médio Oriente e Ásia. Em destaque estão produtos, como conservas de sardinha nos mais variados molhos (simples e compostos), atum, saladas de atum, polvo, pota gigante, lulas, bacalhau e saladas de bacalhau, anchovas, salmão, carapau, cavala, filetes de cavala.
“Também produzimos conservas especificamente adaptadas a determinados mercados, muito exigentes e com receitas exclusivas, indo ao encontro dos palatos locais”, disse Manuel Moreira, que aponta que “as exportações das nossas conservas têm vindo afirmar-se nos quatro cantos do mundo e a exportação representa quase 60% do nosso volume de negócios”.
“O mercado suíço é importante”
“Os pilares centrais do nosso crescimento são qualidade, variedade, packaging, marcas próprias e capacidade de inovação”, reforçou este responsável, que avalia ser “fundamental” a participação do parceiro local para implementar e articular ações no terreno.
“O mercado suíço é importante, não pela dimensão, assim como Macau, mas pelas “bandeiras” que representam junto da comunidade portuguesa aí residente. O Brasil é um mercado aonde estamos há mais de 120 anos e é prioritário na nossa estratégia internacional”, reforçou.
Manuel Moreira explica também as vantagens existentes no trabalho de internacionalização da Inovcluster.
“Somos sócios da Inovcluster e já participamos em vários projetos muito bem desenhados pela associação. Tanto a direção como a equipa da Inovcluster são muito profissionais e dedicadas aos projetos e aos seus associados. Todas as empresas que não tenham experiência internacional ou que não disponham de competências em determinadas áreas, deveriam aproveitar as sinergias da associação para desenvolverem os seus projetos no grande mercado internacional”, afiançou Manuel, que recordou que, com o apoio da referida associação, foi possível “participar numa missão ao Canadá” e obter “expertise sobre mercados muitos específicos como o Médio Oriente e estudos de mercado à medida”.
Sobre o futuro, Manuel Moreira revela que a ideia é “consolidar alguns mercados aonde temos uma presença inferior a cinco anos, designadamente, na América Central, além de continuar a desenvolver a estratégia desenhada a médio prazo para os mercados situados na Europa de Leste, bem como apostar fortemente no Médio Oriente e repensar a estratégia para alguns mercados sediados na região do extremo Oriente, com entrada e saída de novos players”.
Já Miguel Fernandes, de 47 anos, sócio-gerente da empresa Impacktplus, que detém a marca “Casa do Favo Portuguesa”, revela que os negócios já chegaram a mercados como Portugal, EUA, França e Alemanha, para aonde são exportados produtos como mel e compotas. Este responsável sublinha que as exportações “ainda são residuais”.
A empresa, associada à Inovcluster, tem a sua sede em São Martinho do Porto, Portugal, e tem interesse em geografias como a América do Norte e Europa.
“Gostaria que as associações tivessem um papel agregador, principalmente as pequenas empresas nas vendas internacionais (…) que permita que várias pequenas empresas pudessem dividir estes custos através de um representante na Inovcluster, por exemplo”, defendeu Miguel Fernandes.
Resultados “amplamente positivos”
A diretora-executiva da Inovcluster reiterou que o feedback das empresas que participam nas iniciativas da entidade tem sido “amplamente positivo”.
“Ao longo de 15 anos, a Inovcluster ajudou na execução de mais de 50 projetos cofinanciados, abrangendo 54 mercados internacionais, e organizou mais de 700 eventos, workshops e formações. Estas ações contribuíram para a inovação e internacionalização de 944 empresas, refletindo o impacto significativo e o reconhecimento das empresas pelos benefícios obtidos através do apoio da Inovcluster”, referiu Christelle Domingos, que defendeu a relevância comercial da internacionalização de produtos e serviços.
“A internacionalização é considerada uma estratégia crucial para o crescimento e competitividade das empresas. A Inovcluster reconhece que expandir para mercados externos permite às PME aumentar a sua base de clientes, diversificar riscos e potenciar a inovação. Além disso, a presença em mercados internacionais pode fortalecer a marca e abrir novas oportunidades de negócio, contribuindo para a sustentabilidade e sucesso a longo prazo das empresas”, finalizou Christelle Domingos.
Ígor Lopes
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