O Que Se Sabe Sobre Jacinta? Nada! Ou Quase Nada!
- Alex Gonçalves Varela
- 9 de abr.
- 2 min de leitura
Estreou na Sala Multiuso do Sesc Copacabana a peça teatral Jacinta. Você Só Morre Quando Dizem Seu Nome Pela Última Vez.

O espetáculo é da Cia do Pássaro – Voo e Teatro (SP).
O texto de autoria de Dawton Abranches narra o caso real de Jacinta Maria de Santana, mulher negra brasileira que, após sua morte, teve o corpo embalsamado e exposto como curiosidade científica, sendo usado em trotes estudantis por quase trinta anos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na cidade de São Paulo.
O texto é crítico, memorialístico, potente, antirracista, denunciador, é um grito de alerta contra o apagamento da memória preta do nosso país. A preservação dessa memória é importante elemento na luta pela resistência e contra o preconceito. E a imortalidade dessa figura se dá numa ribalta. Teatro é resistência!
Por sua vez, o professor Amâncio de Carvalho, da USP, que a utilizou para a realização de experimentos de embalsamado, teve seu nome eternizado em uma rua da Vila Mariana, bairro majoritariamente branco da cidade. Portanto, enquanto a memória preta é apagada e negligenciada, a memória branca é preservada e valorizada.

O elenco é constituído por Gislaine Nascimento e Alessandro Marba que tem uma atuação perfeita. Eles estão sintonizados e ajustados. Eles interpretam com uma técnica perfeita, e associam a emoção. Eles sensibilizam a plateia que se faz presente para assistir a bela encenação e, num palco de teatro, imortalizar a figura da preta Jacinta, cujo seu corpo virou parte do trote universitário e pesquisas médicas. Eles apresentam um domínio correto do texto, passando com clareza e sensibilidade, e do palco, realizando uma intensa movimentação e dominando a ribalta. Os atores interpretam, emocionam, cantam, e são acompanhados pela musicista Camila Silva, que executa a trilha sonora ao vivo no cavaquinho e na cuíca. Os três se complementam.
A direção é de Dawton Abranches, que realizou as marcações certeiras e precisas, e direcionou a correta atuação e interpretação dos atores.
Os figurinos criados por Pedro de Alcântara e Érika Bordin são simples, de bom gosto, e adequados ao espetáculo.
A cenografia criada por Pedro de Alcântara e Dawton Abranches
é decorada por rosas vermelhas na parte dianteira e contém uma cadeira, e na parte traseira remete a uma sala de necropsia, com uma mesa repleta de jarras para realização de experimentos, e a parede com o número sete, a sala onde o corpo de Jacinta ficou hospedado, e funciona também como um quadro negro, onde os atores escrevem palavras.
A iluminação criada por Alice Nascimento apresenta um bonito desenho de luz, e realça a interpretação dos atores.
Jacinta é uma peça teatral que resgata a história de uma preta que, depois de morta, teve seu corpo violentado e vilipendiado; uma dupla de atores que tem uma atuação perfeita, realizada com garra e determinação; e cenografia, figurinos e iluminação bonitos e adequados.

Ótima produção cênica!
Fotógrafo: Bob Sousa
Alex Varela

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