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Revista do Villa

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O Chefe do Morro da Graça

“Iaiá me deixe subir esta ladeira 

Que eu sou do grupo do pega na chaleira.”

(Juca Storoni)


A polca “No Bico da Chaleira" de autoria do compositor João José da Costa Júnior foi a grande sensação do carnaval de 1909. Costa Júnior foi maestro e professor de música do Instituto Profissional, que funcionou durante algum tempo no antigo palacete Rudge, em Vila Isabel. Sob a alcunha de Juca Storoni, mal sabia que o refrão da sua obra iria entrar para a história política do Brasil. O estribilho da música fazia alusão ao hábito de reverência ao então todo-poderoso da política nacional, o gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, apelidado de “o condestável da República", “grande árbitro da política nacional”, “grande eleitor da República” ou apenas, “o chefe”.

Carnaval de 1909. Desfile do Club dos Farofas. Revista Careta. Foto autor não identificado. Acervo Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Pinheiro Machado foi advogado, participou de batalhas da Revolução Federalista (1893-1895), quando recebeu o título de “general honorário". Exerceu o cargo de senador pelo Rio Grande do Sul, de 1890 até sua morte por assassinato, em 1915, quando era vice-presidente do senado e chefe do Partido Republicano Conservador.

Pinheiro Machado - ao centro- recebe em sua casa líderes sindicais. Revista O Malho. 1914. Foto autor desconhecido. Acervo BNRJ

 

As expressões “subir o Morro da Graça” e “pegar na chaleira” caíram na boca do povo. Um sujeito poderia subir a ladeira por ter influência ou por estar em busca de prestígio. Entretanto, conta a lenda que, em “terras altas”, os bajuladores disputavam o “privilégio” de pegar na chaleira para repor a água quente no chimarrão do político gaúcho.

Pinheiro Machado - ao centro - recebe convidados no palacete do Morro da Graça. Revista Careta. 1913. Foto autor desconhecido. Acervo BNRJ

  O general Pinheiro Machado mudou-se com a família no final dos anos de 1890 para o palacete eclético do alto do morro da Graça. O prédio foi batizado de “Villa Brazilina” em homenagem à sua mulher, dona Benedita Brazilina.

Villa Brazilina no alto do Morro da graça em Laranjeiras. Revista Selecta. Ano 1915. Foto autor desconhecido. Acervo BNRJ

 

Entre os governos de Campos Sales (1898-1902), Rodrigues Alves (1902-1906) e Hermes da Fonseca (1910-1914) a influência política de Pinheiro Machado foi enorme, atingindo seu auge na presidência do amigo Nilo Peçanha (1909-1910).

Pinheiro Machado - de cartola - deixando o prédio do Senado. Revista Careta. Ano. 1915. Foto autor desconhecido. Acervo BNRJ

  João da Baiana, exímio pandeirista dos tempos em que o samba era perseguido, portava como “salvo-conduto” um pandeiro, de “cedro e couro de lei”, como costumava dizer. Ele também subia a ladeira, mas com os companheiros do grupo Malaquias, para apresentações. Ganhou o instrumento do seu grande admirador, onde, em uma plaqueta, lia-se a dedicatória: “Ao meu amigo, João da Baiana, oferece Pinheiro Machado”.

João da Baiana e o pandeiro presenteado por Pinheiro Machado. Ano 1939. Foto autor desconhecido. Revista Carioca. Acervo da BNRJ

O acesso ao palacete do Morro da Graça, no início do século XX, se dava pela rua Guanabara, número 12. Hoje, pela atual rua Pinheiro Machado, (rebatizada pelo decreto 1.165 de 31 de outubro de 1917) número 22, bairro das Laranjeiras. O morro quase foi destruído no final do século XIX, mas o governo federal recusou o pedido da Intendência Municipal para aprovar um contrato com o engenheiro Vicente Alves de Paula Pessoa, de demolição do monte e abertura de ruas.

Vista aérea dos bairros de Laranjeiras (...) com destaque - A - para o Morra da Graça. c.1921. Jorge Kfuri. Acervo Instituto Moreira Salles

  O nome daquele outeiro fazia referência ao comerciante Manoel Fernandes da Cunha Graça. Ele foi o diretor do “Lyceu Commercial”, educandário para meninos que funcionava desde 1849 no mesmo endereço da futura Villa Brazilina. A velha escola foi substituída pelo “Colégio Queiroz”, em 1879. Do alto dos seus mais de 40 metros acima do nível do mar, essas escolas escaparam das epidemias que assolaram o Rio de Janeiro até o início do século XX. Um anúncio, de 1890, dizia:

 

“(...) é incontestavelmente o ponto mais aprazivel de todo

o bairro das Larangeiras. Pela salubridade, pela lindissima perspectiva

que oferece á vista e pela facilidade de communicação com a cidade,

em vinte minutos, é uma localidade sem rival nos suburbios da Capital Federal”.

Gravura Laranjeiras. Ano 1852. Ed. Imp. Lemercier. Paris. Acervo BNRJ

 

Após a morte do senador, o local resgatou sua vocação. Entre a década de 1930 e a de 1960 funcionou no lugar o tradicional colégio Sacré-Coeur de Jesus. Em 2001, o decreto municipal da prefeitura do Rio de Janeiro, número 20.611, determinou o tombamento parcial de vários bens no ambiente cultural do bairro das Laranjeiras. Dentre eles, o velho casarão e suas áreas ajardinadas. Hoje, a colina histórica, antigo centro do poder da República Velha, é ocupada por um empreendimento imobiliário moderno que, no possível, readequou (descaracterizou?) o palacete.

Palacete do Morro da Graça. Imagem de internet. Google.

 

Flavio Santos


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