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Revista do Villa

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Relatos Selvagens: explosões humanas em seis atos

Eu berrei quando vi que "Relatos Selvagens” está voltando aos cinemas em uma versão remasterizada. O longa mistura tudo: comédia, drama, suspense, tudo junto. São seis histórias diferentes e todas politicamente incorretas e nos mostram em que ponto nós, humanos, deixamos de ser, teoricamente, civilizados e nos voltamos aos nossos instintos mais primitivos. É aquela hora que você se analisa: e se fosse eu nessa situação?

 


Quando saiu, há dez anos, "Relatos Selvagens” foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015 e selecionado para a Palma de Ouro de Cannes porque é catártico. Todos nós já pensamos em perder os freios, nos vingarmos e fazermos o que estivermos a fim, mesmo que isto flerte com a barbárie.


Poucos filmes capturam a intensidade dos instintos humanos como este. Sob a direção apaixonada de Damián Szifron, esta obra-prima argentina nos leva a um mergulho visceral nas profundezas da frustração, do desejo de vingança e da busca por justiça. Cada história é um soco no estômago, nos lembrando o quão frágil é o equilíbrio entre razão e emoção, é tudo colapso.

 

O primeiro episódio, “Pasternak”, abre o filme com um humor cruel e uma tensão crescente. Em um voo, até então, normal, os passageiros percebem que todos têm uma conexão com o misterioso Gabriel Pasternak. A montagem acelera o ritmo, criando um clímax que provoca nossos risos nervosos. O desfecho é cômico e trágico ao mesmo tempo, como um aviso do que está por vir. Já em “As Ratinhas”, uma garçonete e uma cozinheira enfrentam um cliente abusivo do passado da jovem. A moralidade entra em xeque e essas duas mulheres fazem o que julgam melhor. A direção trabalha o confinamento e a claustrofobia de um restaurante deserto e as sutilezas constroem a tensão moral.

 

“O mais forte” é talvez o mais visceral (e masculino) dos episódios. Dois motoristas se envolvem em uma disputa boba na estrada, que rapidamente descamba para uma batalha de orgulho e violência. Esta história combina enquadramentos dinâmicos e cortes rápidos para escalar a violência entre dois motoristas. A cinematografia captura a degradação física e emocional dos personagens, enquanto a narrativa satiriza uma vontade masculina de ser superior ao rival. Em “Bombinha”, um engenheiro de demolição, vivido pelo fantástico Ricardo Darín, enfrenta as armadilhas da burocracia, culminando em uma explosão literal e metafórica. A antiga luta de um homem comum contra o sistema é algo que acontece com todos nós e todos nos sentimos do mesmo jeito: de mãos atadas.

 

“A proposta” já mergulha em dilemas éticos e no uso do dinheiro como ferramenta. Quando o filho de um casal rico atropela uma mulher grávida, seus pais tentam usar sua riqueza para resolver o problema, A narrativa se concentra nos jogos de poder entre os personagens e nas implicações morais dessa tal proposta, mas as negociações trazem à tona ganância e degradação moral.

 

Finalmente, “Até que a morte nos separe” encerra o filme com uma dose explosiva de caos e redenção. Em plena festa de casamento, a noiva, Romina, descobre a traição do noivo e transforma a celebração em um espetáculo de vingança. O casamento de Romina é uma loucura deliciosa, parece que todos os sentimentos humanos foram batidos no liquidificador e colocados lá.

 

A direção de arte adapta ambientes aos estados emocionais loucos dos personagens. Damián Szifron une essas histórias com maestria, equilibrando humor negro e tragédia. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla e a fotografia criativa (às vezes, kitsch) transformam Relatos Selvagens em um exemplo de como explorar narrativas fragmentadas de forma coesa e impactante. É um retrato sincero, ainda que exagerado, de como todos somos, em algum nível, movidos por nossas emoções mais primitivas.


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Cláudia Felício é roteirista, escritora best-seller traduzida e crítica especializada em cinema.

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Cláudia Felício


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