Minha entrevista desta semana é com o figurinista, carnavalesco e comentarista de carnaval Chico Spinosa.
1- Olá Chico Spinosa! Você nasceu em Tabapuã, interior de São Paulo. Quais são as lembranças que você tem da sua cidade natal?
Sou nascido em TABAPUĂ, interior do estado de São Paulo, uma cidadezinha que até hoje continua pequena. Minhas memórias estão nas coisas simples, família, brincadeiras no cafezal e nos terreroes de café e ir nadar no Rio que corta a fazenda... uma criança feliz.
2 - Você poderia comentar sobre os seus pais, infância e adolescência, e formação primária e secundária?
Minha mãe era educadora do grupo escolar , filha de médicos e meu pai motorista de caminhão que vivia na estrada , fui muito mimado pela madrinha que vive até hoje na fazenda, saí da minha cidade aos doze anos e viemos para a cidade grande em busca dos estudos para os irmãos. Éramos quatro. A formação secundária se deu em plenos anos sessenta, anos da ditadura, na capital do estado, na cidade de São Paulo, que se tornou a grande paixão da minha vida. Tivemos uma infância e juventude com todas as facilidades que uma família abastada possa ter.
3- Quando você começou a se interessar pela criação de figurinos?
Aos dezessete anos, conheci no mercado de tecidos da 25 de março um grande produtor da TV TUPI e me convidou para um papo e me ofereceu o meu primeiro emprego, na novela de Ivani Ribeiro, Mulheres de Areia, com Eva Wilma, juntamente com o figurinista antigo Paulo Varelli, uma proposta de modernizar o figurino e o comportamento dos núcleos jovens da novela. Em paralelo começamos a produzir uma próxima novela de época , se passava na década de vinte, O MACHÃO, com António Fagundes e Maria Izabel de Lizandra, para após o término do grande sucesso que foi Mulheres de Areia. E a partir daí veio o gosto, o carinho os estudos e as pesquisas sobre épocas em novelas.
4- Como se deu a sua formação como figurinista?
Minha formação como figurinista foi autodidata, com muito estudos e pesquisas como faço até hoje, apesar de estar cursando a História da Arte com Dino Lovecchio.
5- Você ingressou na televisão brasileira na década de setenta na extinta TV Tupi. Como eram as condições de trabalho para um figurinista naquele momento?
A TV Tupi foi uma grande escola, não só para mim, mas para a maioria dos profissionais que por lá começaram, grandes diretores, e atores, maquiadores, cabeleireiros, cenógrafos iluminadores, eu tive o prazer e o aprendizado de viver essa grande escola de televisão. No começo, em preto e branco, e depois com a televisão se tornando colorida, aprendemos testando cores e texturas até conseguirmos bons resultados. Em termos de criatividade foi um mar turbulento e fabuloso
6- A seguir, você ingressou na equipe de figurinistas da TV Globo. Como se deu o seu ingresso na emissora? Quem eram os figurinistas que integravam a equipe?
Quando a teve tupi fechou (faliu), fiz incursões pela TV Cultura de São Paulo e depois acabei fazendo tres novelas na Rede Bandeirante entre elas a novela Cara Cara com Fernanda Montenegro, Débora Duarte, Luís Gustavo e David Cardoso....e aí veio o convite para a Rede Globo para fazer o figurino de Homem Proibido, com o David Cardoso. Acabei ficando trinta anos na Globo. Mas eu me apaixonei pela linha de shows, humor, fiz Jo Soares, Chico Anisio show, e especiais, e os grandes musicais como Criança Esperança, que fiz parte da equipe de criação por mais de quinze anos, Amigos, e os grandes musicais de final de ano como Rita Lee, Simone, Robeto Carlos, todos sobre a batuta de Aloísio Legei. Na Globo encontrei grandes nomes no figurino: Berardi um mestre, Marília Carneiro um exemplo, Beth Felipeck, Marco Aurélio Rodrigues, Elena Gastal, Paulo Lois um amigo, enfim os melhores do figurino no país em televisão.
7- Você realizou inúmeros trabalhos na emissora. Qual deles você mais gosta de destacar?
Um dos trabalhos que mais gosto de me lembrar foi o Circo Rita Lee, especial de final de ano. Foi muito importante Rita na minha vida, foi o lisérgico que me faltava e que durou em quarenta anos de amizades e grandes parcerias, Marca da Zorra e por último a exposição no MIS.
8- Da televisão, você foi atuar no carnaval também. Existe diferença em criar um figurino para a televisão e para um desfile de Escola de Samba? Justifique.
Da televisão, eu fui convidado por Mário Monteiro a fazer carnaval, um desafio maior, sair do vício de monitores e fazer grande desfiles em céu aberto, sem ensaios geral, mais aprendizados, proporções e volumes que me fizeram me apaixonar e ter grandes resultados entre Rio e São Paulo. Paulicéia Desvairada. 1992 Rio. Estácio de Sá; Banzai 1998 São Paulo. Vai Vai; Acorda Brasil, 2008 Vai Via ; Salve Jorge 2016 Estácio de Sá... e assim se passaram trinta e tres anos da minha vida acreditando, fazendo, e me surpreendendo com os resultados.
Conhecer o samba e o carnaval foi mágico na minha vida até que um dia fui convidado para fazer parte do time de comentarista de carnaval junto com Maria Augusta, Haroldo Costa, Pretinho da Serrinha e Arlindo Cruz, foi uma honra e uma grande experiência que a televisão me concedeu. Durante toda a minha história no carnaval só me falta fazer uma homenagem carinhosa a Rita Lee. "Por isso não provoque é cor de rosa choque".
9- O que é ser um figurinista? Como você define o seu trabalho?
Ser figurinista é adequar um guarda roupa para cada personagem dentro de uma dramaturgia. Na minha época eram elencos pequenos e fortes, com personagens e talentos. Hoje mudou muito. Elencos enormes, desinteressantes e muitos personagens que a profissão de figurinistas se delapidou e se tornaram para satisfazer o mercado em produtores de moda e sacoleiros de luxo.
10- Quais são os seus projetos futuros?
Antes de falar em futuro, depois de cinquenta anos de trabalho, participei com o Grande Abel Gomes da abertura de duas olimpíadas, uma do exército como criação e construção, e a outra olimpíadas como colaborador e executor. Abel Gomes foi sempre um grande parceiro em grandes trabalhos desafiadores, e exemplo a vinda do Papa Francisco e a missa em Copacabana.
Voltando um olhar para o futuro sempre estaremos com nossas raizes, "o Teatro" um lugar tranqüilo para novas experiências e novas memórias. Adoro músicas! Adoro teatro!
Chico Vartuli
Arquiteto, dedicado a interiores, com pós graduação em Berlim e curso de decoração em Londres, amante da arte e cultura. De um tempo para cá começou um hobby; escrever colunas, dedicando se a buscar pessoas, histórias interessantes voltadas ao mundo artístico.
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