Carluz Belo é músico, cantor e compositor, nascido em Fão, vila portuguesa de Esposende. Ainda pequeno, já se sentia encantado pelas melodias que ouvia pela TV, já um prenuncio de sua carreira musical. Em 2020, lançou seu primeiro disco, intitulado "Menino da Praia", realizando diversos concertos.
Conheçam mais um pouco desse grande artista português.
1 – Em sua visão, quem é Carluz Belo?
Eu considero-me um “cantautor”, como dizemos aqui em Portugal. Componho as minhas canções e as suas letras e adoro interpretá-las ao vivo. Também tenho um gosto especial por criar as imagens que acompanham a minha música, seja através da fotografia ou do vídeo. Considero-me um artista musical, que tenta sugerir e entregar ao público ideias bonitas em forma de canções.
2 – Como despertou o seu gosto pela música?
Tudo começou muito novo, curioso pelas melodias dos pequenos anúncios publicitários que passavam na TV. Ficava muito interessado nos desenhos animados musicais e no universo da Eurovisão, começando logo pela seleção Portuguesa, através do mítico programa Festival da Canção, onde participei em 2008 com o meu tema “Cavaleiro da Manhã” – um tributo à Lusofonia.
3 – Quais referências musicais o influenciaram em sua identidade musical? Ouvi dizer que você gosta do Legião Urbana. É verdade?
Eu estou continuamente a receber influências vindas de todo o lado, principalmente do mundo anglo-saxónico e lusófono. Kate Bush, Rufus Wainwright, Sufjan Stevens, Joni Mitchell, são apenas algumas referências em Inglês. Em Portugal tenho inúmeros artistas que adoro, dos quais posso destacar o pioneiro artista LGBT António Variações, que deixou uma grande marca que perdura até hoje, desde a sua curta produção nos anos 80.
Legião Urbana foi a banda que mais me tocou na minha adolescência e me fez querer ser músico. A banda nunca foi muito conhecida em Portugal, mas marcou-me imenso, quando a conheci no final dos anos 90. Principalmente porque em Portugal era moda quase todas as novas bandas cantarem apenas em Inglês. Mas tenho múltiplas influências brasileiras, entre elas Caetano, Rita Lee, Chico Buarque, Silva e a minha eterna Marisa Monte.
4 - A sua canção "Passos No Escuro" foi dedicada às vítimas de crimes de homofobia. Inclusive, você a define como “Oração pela Memória LGBTI+. O que o inspirou a escrevê-la?
“Passos No Escuro” reflete acerca da coragem que a Comunidade LGBTI+ ainda hoje precisa ter para viver a sua vida livremente, sem medo de julgamentos ou ofensas, quer físicas, quer verbais ou outras, ainda mais subtis. Quis homenagear as pessoas que viveram em tempos anteriores, em períodos históricos ainda mais difíceis, mas lembrar que ainda hoje há um caminho para percorrer em direção a uma igualdade plena.
5 – Particularmente, eu achei o videoclipe de “Passos No Escuro” belíssimo, poético e recheado de sensibilidade. Conte-nos como foi o processo de gravação. E em que local ocorreram as filmagens?
O videoclipe foi filmado na zona de Aveiro, entre Ovar (Praia de Maceda) e Estarreja (BioRia de Salreu). Eu quis tentar produzir o vídeo que eu próprio precisava de ter visto quando era adolescente. Infelizmente, ainda existe apenas um pequeno número de artistas queer, que abordem abertamente a questão da homoafetividade ou outras temáticas LGBTI+. A ideia foi mesmo sensibilizar para a pureza do início de um romance entre dois rapazes. Fiquei muito feliz com o resultado final e com a reação do público à canção e ao vídeo.
6 – Em sua opinião, Portugal acolhe bem a Comunidade LGBTI+? E como combater a homofobia?
Portugal é um dos países mais avançados em termos de legislação que proteja especificamente a Comunidade LGBTI+. Os últimos 15 anos foram de grandes conquistas políticas. Contudo, o recente crescimento da extrema-direita em Portugal e na Europa só vem lembrar que, para perder direitos, basta tê-los. É importante manter um olhar atento perante a sociedade e fazer a nossa pequena parte, conversando com as pessoas ao nosso redor, tentando informar com delicadeza. A abertura de mentalidades não é uma coisa tão rápida como a entrada em vigor de leis que nos protejam. Parece-me que Portugal é um país bastante humano, onde as pessoas ainda conseguem ter um olhar meigo sobre o outro, mas claro que ainda existe um certo nível de homofobia, que pode ser mais expressivo dependendo dos contextos, da região do país e de múltiplos fatores.
7 - "MENINO DA PRAIA" é o seu primeiro disco, contendo 13 faixas. Quais foram suas maiores inspirações para criar seu disco?
O álbum foi lançado em 2020, em plena pandemia, após 10 anos de muito trabalho. Foi uma longa jornada que teve sempre como inspiração as minhas raízes familiares, o Minho, a Praia de Ofir e a minha própria história de vida. Também foi ótimo ter conseguido lançar 5 videoclipes para ilustrar algumas das canções. Acima de tudo, adorei poder partilhar a ideia de que, para mim, compor e cantar é a melhor forma de me expressar livremente, como se fosse uma criança que corre livre pela praia.
8 – Dentre todas as suas canções, há alguma que tenha um significado mais forte?
Talvez “Ao Virar de Cada Esquina” seja até hoje o meu tema mais profundo. Fala de Vulnerabilidade & Esperança ao longo da vida. É uma canção que me acompanha desde o início e que já conheceu muitas versões de mim próprio. Nela sou criança, adolescente e adulto. Mas o meu mais recente single “A Galope Na Saudade” é igualmente muito especial. Foi lançado no final de 2023 e fala de um luto romântico, de um amor consumido pelo fogo. Marca o início de um novo ciclo musical mais maduro. Convido-vos também a assistirem ao seu videoclipe, feito num templo em ruínas em Viana do Castelo.
9 - Você já realizou concertos ao vivo. Como é a sensação de cantar para várias pessoas? Costuma ficar apreensivo nas apresentações?
Posso ter um certo nervosismo antes do espetáculo, mas normalmente dissipa-se logo na primeira canção. É sempre muito especial sentir que as pessoas ficam muito atentas e perceber quando estão mesmo a gostar ou até quando se emocionam. Uma das situações mais engraçadas é mesmo quando o público começa a bater palmas, mesmo antes de chegar o momento em que eu iria pedi-las!
10 – Que conselho você daria para quem sonha em entrar no universo da música?
O universo da música profissional não é fácil. Exige muita dedicação, determinação, estudo, trabalho e nada é garantido. Mas pode ser também uma viagem muito bonita, se soubermos adaptar as nossas expectativas e tivermos a nossa dose de resiliência. Para mim, o mais importante é continuar a sentir-me apaixonado pela música e pelas canções, pelo ato de compor e de cantar. É uma viagem que vale muito a pena, se soubermos manter viva a curiosidade!
Crédito das fotos:
Foto 01 - Carluz Belo - Disco ''MENINO DA PRAIA'' [Foto by Cláudia Lobo]
Foto 02 - Carluz Belo - Concerto ''MENINO DA PRAIA'' [Foto by Diogo Meira]
Foto 03 - Carluz Belo - Single ''A Galope Na Saudade'' [Foto by Mariana Vasconcelos]
Foto 05 - Carluz Belo - Single ''Folhas Secas'' [Foto by Mimi Sá Coutinho]
Para conhecer mais, acesse:
Youtube: https://www.youtube.com/carluz
Instagram: https://www.instagram.com/carluzbelo/
Videoclipe “A Galope na Saudade”: https://youtu.be/9x3B9WAkaIQ
Douglas Delmar - colunista da Revista do Villa
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