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Entrevista: Anna Costa e Silva

Entrevista com a internacional artista visual Anna Costa e Silva.

Foto exclusiva para esta coluna da Revista do Villa
Foto exclusiva para esta coluna da Revista do Villa

1 - Olá Anna! Você está realizando   uma residência artística na Delfina Foundation em Londres. Qual é o projeto que você irá realizar no espaço?


Sim! Estou te escrevendo da Delfina, inclusive. Estou desenvolvendo uma nova instalação de filmes e uma performance ao vivo, que explora a relação entre som, gênero, relações afetivas e pensamento neoliberal. O projeto patriarcal de manter as mulheres em silêncio, a forma que os sons das mulheres têm sido historicamente marginalizados e associados com a loucura ou a bestialidade, e como isso  se acentua num contexto de capitalismo tardio, em que as relações humanas se transformam em relações de consumo, ou assets. Estou realizando uma série de gravações de conversas com mulheres, ouvindo suas histórias, pensamentos e sensações e também os seus sons, além de uma pesquisa bastante distópica sobre devices de companhia, ou de sexo, tais como o holograma Gatebox, que foi desenhado para ser a esposa perfeita, ou a boneca sexual Harmony, que não à toa, se chama “harmonia”. Me interessa, justamente, escutar o que as mulheres têm a dizer e como tanto as suas experiências e seus sons escapam das tentativas de controle e dos sistemas binários 0101. Essa coleção de histórias, sons e imagens será apresentada no final da residência, como uma experiência de spoken word ao vivo e, mais pra frente, numa instalação de filmes e um coro de mulheres.



2- Quais são as características principais do seu trabalho artístico?


Toda a minha prática se dá à partir de processos de escuta, intimidade e relação entre pessoas. Me interesso muito pelas histórias pessoais e de que forma elas carregam nossos traumas e experiências coletivas. Meus projetos se desdobram em instalações imersivas, filmes, performances e experiências efêmeras, que existem num espaço híbrido entre documentário, ficção, sonho e imaginação.



3- Como você se define artista plástica?


Sim, mas não só. Meu trabalho se dá nas bordas e interseções entre as artes visuais, o cinema, a performance e a palavra.



4- Quais são os temas principais que você tem trabalhado em sua produção artística?


Me interesso por questões humanas e relacionais, por escutar as histórias e formas de ver os mundo e como elas refletem os traumas e experiências coletivas. Meus dois últimos projetos “Tamagotchi_balé” e “Por favor leiam para que eu descanse em paz” são instalações de filmes, sons e objetos que compartilham esse processo de escuta como ponto de partida mas olham para questões diferentes.

"Tamagotchi_balé" - Anna Costa e Silva - videoinstalação - 2023
"Tamagotchi_balé" - Anna Costa e Silva - videoinstalação - 2023

“Por favor leiam para que eu descanse em paz”, realizado em parceria com Nanda Félix começa quando Nanda encontra um envelope com o mesmo título deixado por sua avó na ocasião da sua morte. Dentro do envelope, havia um laudo psicológico e 16 anos de correspondências trocadas com um padre. MC foi internada com depressão pós parto na década de 1950. O projeto leva às últimas consequências o seu pedido “leiam para que eu descanse em paz”, convidando mulheres para lerem o laudo de MC e contarem suas histórias e reflexões sobre como o estigma da loucura ainda hoje é usado como forma de silenciamento. E o que as mulheres gostariam de tornar público para descansar em paz – em vida. A história de sua avó se torna a abertura de um espaço para que outras histórias possam ser compartilhadas. Foi um processo muito emocionante e envolveu mais de 70 mulheres. Esse trabalho foi exposto no Sesc Copacabana.


Já “Tamagotchi_balé” começa com um sonho que eu tive, em que estava fazendo um curso de futuro para aprender a viver num mundo em que as relações foram extintas e o amor, proibido, por atrapalhar a produção 24/7h. Apliquei com esse projeto para uma residência dentro dos estúdios da Ubisoft, empresa de games, e passei 3 meses ouvindo sonhos de programadores e designers. Como essas pessoas estão "desenhando” o nosso mundo, de certa forma, estava curiosa sobre o que estavam sonhando, principalmente no que diz respeito ao coletivo.  Ouvi muitos sonhos sobre a simbiose entre humanos e máquinas, a forma como o pensamento neoliberal afeta as relações, gratificação instantânea, narcisismo, branding pessoal, vício em dopamina, tudo isso à partir de narrativas oníricas  – algumas bastante surreais e outras bem próximas ao que estamos vivendo. Comecei chamar esse estudo de distopia relacional. E, junto com a equipe de gamers, criamos esses sonhos e reflexões em filmes 3D, numa série de filmes que compôs uma instalação imersiva. Estávamos lidando com essa distopia relacional, mas trabalhando de forma coletiva e imaginativa, o que era interessante. Esse trabalho foi exposto no Centro Cultural Municipal Hélio Oiticica.



5- Como se deu a sua formação como artística plástica?


Minha primeira formação foi em Cinema, e também comecei a trabalhar como assistente de direção em filmes e séries aos 17 anos, sinto que trabalhar em equipes de direção foi uma grande escola. E depois fiz mestrado em Artes Visuais na School of Visual Arts, em Nova York, onde morei por dois anos entre 2011 e 2013. Eu aprendo muito com cada processo de trabalho e gosto muito de trabalhar em equipe. Trabalhei com diretores como Cacá Diegues, Jorge Durán, os artistas visuais Mauricio Dias e Walter Riedweg e, mais recentemente, com o Walter Salles e a Daniela Thomas. Além do meu trabalho como artista visual, também dirijo documentários e peças sonoras, entre elas está “Uma coisa por outra”, um audiolivro documental que dirigi com a Daniela Thomas sobre o trabalho do artista Carlito Carvalhosa, que foi exposto no Instituto Tomie Ohtake e também está disponível nas plataformas de áudio. Também a série de documentários “Olhar” sobre artistas contemporâneos que dirigi com Isis Mello para o Canal Arte1.



6- Quais são as suas principais referências teóricas e práticas que embasam o seu fazer artístico?


Minhas principais referências são as pessoas que eu encontro e convivo, e minhas conversas com elas – muitas delas acontecem em chamadas abertas para os trabalhos. Mas, falando sobre obras e pensadoras/os que tenho me debruçado ultimamente, citaria Linda Montano, Eleonora Fabião, Sophie Calle, bell hooks, Laurie Anderson, Lygia Clark, Eduardo Coutinho, Aline Motta, Agnes Varda, Margueritte Duras, Tarkovsky, Jonathan Crary, Grada Kilomba, Ana Pi, Sidarta Ribeiro, Ailton Krenak, Willhem Reich.



7- Como você avalia os espaços de exposição no Brasil?


Acredito que temos instituições maravilhosas no Brasil, museus e centros culturais, e pessoas muito sérias as dirigindo, que fazem um trabalho hercúlio. Estamos num longo caminho de recuperação das nossas instituições, editais, fomentos, etc, pois muito foi destruído durante o governo do Bolsonaro. Espero que possamos seguir nesse caminho.



8- Quais são os seus projetos para o ano de 2025?


Estou agora em residência na Delfina Foundation em Londres e em março apresento aqui a performance em que estou trabalhando. Também participo de uma exposição coletiva “Trou Noir” com curadoria de Bernardo de Souza durante a Arco Madri. Tamagotchi_balé acabou de passar em tela grande no Festival de Cinema de Tiradentes. Tenho outros projetos vindo aqui na Europa e no Brasil, mas ainda não posso comentar sobre eles.


"Por favor leiam para que eu descanse em paz" - Anna Costa e Silva e Nanda Félix - videoinstalacão - 2024.
"Por favor leiam para que eu descanse em paz" - Anna Costa e Silva e Nanda Félix - videoinstalacão - 2024.

Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação

 

Chico Vartulli


1 Kommentar


Zizi Magalhães
06. Apr.

Essas são as Mulheres da Nova Geração que fazem história!!!

Parabens!!!


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