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Revista do Villa

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Bairros Históricos do Rio de Janeiro - Santa Teresa

As histórias de Santa Teresa começam poucos anos após a fundação da cidade, em 1565. No início do século XVII, já era lugar da manifestação da religiosidade e das festividades populares que ocorriam no entorno da Capela de Nossa Senhora do Desterro, cuja imagem, tida como milagrosa e responsável por muitas curas, atraía devotos, romeiros e peregrinos.

Convento de Santa Teresa e os Arcos da Lapa - 1820 - pintura de Richard Bate
Convento de Santa Teresa e os Arcos da Lapa - 1820 - pintura de Richard Bate

A ermida se localizava onde fica, hoje, a Ladeira de Santa Teresa, e foi fundada nos anos 1620 pelo português Antônio Gomes do Desterro, que mantinha uma quinta na colina batizada de Morro do Desterro, por causa do nome dele e da capela. Já nessa época, há registros de escravizados fugidos que se escondiam nas matas do Desterro.

 

Do Desterro à Santa Teresa

 

Em 1710, o caminho, que começava em Mata-Cavalos (atual Rua do Riachuelo) até a ermida, foi um dos mais importantes palcos da resistência dos portugueses durante a segunda invasão francesa à cidade. Era também em Mata-Cavalos que morava a família de Jacinta Pereira Alves, nascida em 1715, no dia do bicentenário da santa espanhola Teresa d’Ávila, fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças. Querendo, tal como a santa, uma vida de orações, martírios e retiro, ela se encerrou, junto com a irmã, numa chácara abandonada no Morro do Desterro, a Chácara da Bica, cujo ponto mais alto ela batizou de Chácara do Céu.

Morro do Desterro e Convento de Santa Teresa
Morro do Desterro e Convento de Santa Teresa

O clima, mais fresco que na parte baixa da cidade, e outras questões atraiam e muito os imigrantes europeus que chegavam ao Brasil.

 

“Quando houve a abertura dos portos, os estrangeiros bateram os olhos para Santa Teresa, devido ao regime de ventos, que deixa a área mais fresca. Além disso, por ser mais distante do centro urbano da cidade, muitas pragas e doenças como a Febre Amarela, não chegavam àquela área”, relatou o historiador Álvaro Braga em 2013, em um documentário sobre o bairro.

 

O que antes era um alento para poucos, virou a solução de muitos. Devido a esse favorecimento geográfico, por volta de 1850, a região foi intensivamente ocupada pela população que fugia da epidemia de febre amarela.

Santa Teresa no século XIX
Santa Teresa no século XIX

A fuga da febre amarela e outras doenças e, principalmente, a presença do bonde somaram para o desenvolvimento do bairro.

 

Duas décadas mais tarde, um veículo, que marca o bairro até os dias atuais, passou a dar as caras no Rio de Janeiro. Em 1872, começou a rodar o bonde  que passava pelas Ruas Joaquim Murtinho e Almirante Alexandrino. Inicialmente, o bonde era tracionado por tração animal. Depois, foi dotado de motores e rede elétrica.

Último bondinho puxado por burros - final do século XIX
Último bondinho puxado por burros - final do século XIX

Durante o século XX, Santa Teresa assistiu de cima todo o processo de desenvolvimento maciço do centro da cidade do Rio de Janeiro. Em um dado momento desse século, o bairro passou a chamar a atenção de artistas e intelectuais.

 

Glamour do Hotel Moderno

 

Considerado um dos hotéis mais luxuosos do Rio de Janeiro quando foi inaugurado em 1914, o Hotel Moderno, localizado na Rua Cândido Mendes, n°283, tinha uma belíssima vista para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. O prédio, arruinado, continua lá, e sua história é digna de um filme.

Hotel Moderno - Anos 20
Hotel Moderno - Anos 20

O casarão em estilo eclético, de 4 andares, contava com 65 apartamentos e tudo o que havia de mais moderno na época, como:  energia elétrica, dois elevadores, água corrente fria e quente em todos os quartos, ventiladores de teto, imenso restaurante e refeitório e “nada menos” que sete banheiros com água quente e telefones. Daí, o nome Moderno.

Anúncio do Hotel Moderno - Santa Teresa
Anúncio do Hotel Moderno - Santa Teresa

De acordo com a propaganda da época, o Hotel contava com uma “cozinha internacional” e todos os seus funcionários falavam fluentemente francês, inglês, espanhol e alemão. Os anúncios também destacavam como qualidades do Moderno: o silencio, o ar puro da parte alta de Santa Teresa e a ausência de poluição. Tantas qualidades faziam do Moderno – ou Moderne – praticamente uma casa francesa de primeira linha.

Nomes ilustres ficaram hospedados no Hotel Moderno, entre eles está o da bailarina e coreografa norte-americana, Isadora Duncan, precursora da dança moderna. Duncan era uma das frequentadoras do palacete da mecenas e herdeira do grupo Mate Laranjeira, a feminista Laurinda Santos Lobo, também conhecida como a “marechala da elegância”. Ela era sobrinha de Joaquim Murtinho. A então elegantérrima residência de Laurinda ficava próxima ao Largo do Curvelo, onde hoje é o Parque das Ruínas.

Bailarina Isadora Duncan no Hotel Moderno
Bailarina Isadora Duncan no Hotel Moderno

A passagem de Duncan foi noticiada de forma rumorosa pela imprensa da época. É possível ver um raro registro fotográfico da artista, que morreria onze depois em um acidente de carro na França, na parte externa do Hotel Moderno com a Baía de Guanabara ao fundo.

 

Toda a modernidade e sofisticação do prestigioso estabelecimento não resistiram às mudanças sociais e econômicas da época que levaram o Hotel Moderno a encerrar as suas atividades, deixando órfãos uma legião de hóspedes e admiradores dos tempos do Rio Antigo...

 

Santa Teresa na atualidade

Atual do Bairro de Santa Teresa
Atual do Bairro de Santa Teresa

Depois de muitos anos de degradação, provocada por conflitos entre as 14 favelas que os morros do bairro abrigam, Santa Teresa voltou a ser um bairro requisitado por artistas, atraindo curiosos por seus casarões do século XIX.

 

A mudança começou a ocorrer em 1995, quando um grupo de moradores procurou a Secretaria de Segurança do Rio. Manifestos foram lidos em praça pública, favelas receberam mutirões de limpeza e foi criado o Viva Santa, hoje uma ONG. Desde então os índices de violência começaram a cair.

 

Em maio de 1997 a badalação de quatro mil visitantes e 75 artistas do Portas Abertas atraiu a atenção da Secretaria Municipal de Cultura. Um bonde de carga virou o Palco sobre Trilhos. O transporte melhorou, com novas linhas de microônibus e a restauração dos bondinhos. E os antigos casarões, fadados ao esquecimento e a destruição, começam a ser reconstruídos.

 

Um projeto batizado de “As cores em Santa Teresa” recuperou 40 casas coloniais sob o patrocínio do Grupo Monteiro Aranha. Para dar continuidade e manter a preservação do espaço, a prefeitura está oferecendo benefícios (como isenção fiscal e predial) para moradores ou empresas instalados no local que se comprometem em restaurar ou preservar os antigos edifícios da região.

 

 

 

Fontes:

Arquivo Nacional

Biblioteca Nacional

Brasiliana Fotográfica

MultiRio

Iphan


 

André Conrado


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