Bairros Históricos do Rio de Janeiro - Catete
- André Conrado
- 8 de mar.
- 4 min de leitura
Andar pelas ruas do Catete é passear pela história. O bairro ainda conserva o clima bucólico de outras épocas, decorado por construções antigas. Seria necessário um livro (ou mais) para contar a história da região...
Antes mesmo da chegada dos portugueses à cidade do Rio de Janeiro, existia o “Caminho do Catete” – onde hoje fica a Rua do Catete. Ao lado desse caminho passava um trecho do Rio Carioca e do Rio Catete. O local era habitado pelos índios tamoios da aldeia Uruçumirim (“uruçu” significa abelha e “mirim” quer dizer pequeno), chefiada por Biraçu Merin.

Relatos antigos mostram, inclusive, que franceses e portugueses travaram algumas batalhas na região onde hoje fica a Rua do Catete, a principal do bairro.
Granito para construir as igrejas do Rio
Do bairro também saíam os blocos de granito para a construção de diversas igrejas cariocas, como a da Candelária, no Centro, e a de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado. A matéria-prima era extraída pelos escravizados, de pedreiras localizadas no final do que, hoje, são as ruas Pedro Américo e Bento Lisboa.
A designação Catete foi dada pelos índios tamoios, seus habitantes originais, e significa, em tupi, “mato fechado” – era o modo como os indígenas designavam o braço do Rio Carioca, que, antes da urbanização, contornava o Outeiro da Glória, desembocando no mar. A importância do bairro remonta, ainda, à expansão da cidade rumo ao sul, pois era pelo “caminho do Catete” que se ia nessa direção.

Na lista dos famosos moradores do bairro está o escritor Machado de Assis, que viveu por lá entre 1876 e 1882. Machado morou no número 206 da Rua do Catete, sendo a sua morada mais preservada hoje em dia.

No final do século XIX, o bairro passou por intenso processo de urbanização, pois a sede do Governo Federal se instalou por lá, na Rua do Catete, no Palácio do Catete”, conta o historiador Maurício Santos.

O bairro do Catete guarda a memória de uma época áurea, quando grandes produtores de café – principal produto de exportação brasileiro na virada do século XIX para o XX – construíram ali suas mansões. O bairro conta também a história da República: 18 presidentes residiram e governaram no palácio que, hoje, está aberto à visitação pública.

Palacio do Catete
Entre 1858 e 1860, o português Antônio Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo, adquiriu as casas de número 159, 161 e 163 do Caminho do Catete e seus respectivos terrenos de fundos, que se estendiam até a Praia do Flamengo, entre a Rua do Príncipe (atual Rua Silveira Martins) e a Rua Ferreira Viana. Fazendeiro e comerciante de café, banqueiro e industrial, o barão chegou a ser o homem mais rico do Brasil durante o Segundo Império.

Em 1858, a demolição da casa número 159 marcou o início da construção do Palácio Nova Friburgo, que seria a residência do barão e de sua família, projetado pelo arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt. O jardim foi organizado de acordo com o projeto atribuído ao paisagista francês Auguste François Marie Glaziou.
O Palácio Nova Friburgo também era chamado de “Palácio do Largo do Valdetaro”, pois ocupava terreno antes pertencente ao escrivão português Manoel Valdetaro, em frente ao qual havia um largo com um chafariz público.
A construção do palácio terminou oficialmente em 1866, embora as obras de acabamento continuassem por mais uma década. Porém, o Barão e a Baronesa de Nova Friburgo, Laura Clementina da Silva, não viveram muito tempo na nova casa, pois ele morreu em 1869 e ela, no ano seguinte.

Depois disso, o Palácio foi ocupado por um dos filhos do casal, Antônio Clemente Pinto Filho, o Conde de São Clemente. Em 1889, ele vendeu o imóvel para um grupo de investidores da Companhia Grande Hotel Internacional, que planejava transformá-lo num hotel de luxo.
Meses depois, a República foi proclamada. A companhia faliu após a crise especulativa do Encilhamento e seus títulos foram comprados pelo acionista majoritário, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink, que se tornou o único proprietário do Palácio. Em 1895, o conselheiro hipotecou o imóvel como garantia de crédito ao então denominado Banco da República do Brasil. No ano seguinte, esta hipoteca foi extinta mediante a venda do imóvel à Fazenda Federal, que o incorporou ao patrimônio da União.


O Palácio funcionou como residência e sede da Presidência da República de 1897 a 1960.
Hoje em dia, o casario da Rua do Catete de fins do século XIX e início do século XX, ainda pode ser apreciado, pois muitos sobrados daquela época encontram-se conservados – edificações remanescentes de um tempo em que a região era o centro do poder no país e palco de inovações, como a primeira linha carioca de bondes elétricos, inaugurada, em 1892, no Largo do Machado.

Fontes:
Arquivo Nacional
Brasiliana Fotográfica
Museu da República
Iphan
André Conrado

Impressionante como nascemos é moramos uma vida no Rio de Janeiro e ainda aprendemos coisas hiper interessantes sobre o estado graças à estas colunas de historiadores e apaixonados pela história. Parabéns!!!!