Como não poderia deixar de ser, esta semana escrevo sobre o filme brasileiro do momento.
O longa foi "Ainda estou aqui", baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, foi ovacionado no Festival de Cannes deste ano. Fernanda Torres recebeu oito minutos de aplausos de pé merecidamente. Então, acho que este é mais do que um filme; é uma chance de reparação histórica para o cinema brasileiro. Em 1999, Fernanda Montenegro disputou o Oscar de Melhor Atriz e perdeu (pasme) a insossa Gwyneth Paltrow, por "Shakespeare Apaixonado".
Agora, décadas após Fernandona ter sido indicada por "Central do Brasil", com uma atuação que cativou o mundo e mostrou a profundidade do talento nacional, sua filha, Fernanda Torres, nos entrega outra interpretação arrebatadora, digna da mesma aclamação.
Em uma performance que é, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma afirmação própria, Fernanda Torres mergulha em sua personagem com uma profundidade que ecoa a atuação visceral da mãe, mas que também traz a força única de uma geração marcada por novas experiências e sensibilidades. A intensidade de "Ainda estou aqui" encontra na interpretação da Fernanda o seu coração pulsante, e cada gesto e expressão dela lembram a honestidade crua que sua mãe levou para a tela anos atrás. Não cabem comparações, mas a afirmação de serem duas atrizes brilhantes.
Dirigida por Walter Salles, o cinema brasileiro reafirma sua capacidade de produzir narrativas profundamente humanas com precisão técnica. A atriz tem cenas de pura vulnerabilidade, explora as nuances do sofrimento e da resiliência de forma tão verdadeira que parece transcender a atuação. Eu sinto ecos de "Central do Brasil" em cada silêncio e em cada olhar. É como se o filme fosse um diálogo entre mãe e filha sobre o que significa, para o cinema brasileiro, explorar a essência humana, principalmente numa posição de mãe.
Esta é uma história real; o escritor Marcelo Rubens Paiva conta essa história em seu livro homônimo e vencedor do maior prêmio literário do Brasil, o Jabuti. Seu pai foi levado de casa por forças militares, torturado e nunca mais voltou. Aí, vemos a mãe, a advogada Eunice Paiva, com cinco filhos para criar em uma época nada fácil para nós, mulheres. Então, a emoção, se mistura com a força de Eunice, com os seus silêncios e fazem o filme bastante profundo, mas longe do melodrama chato. A montagem se destaca pela forma como administra o ritmo da narrativa, alternando momentos de silêncio contemplativo com sequências mais dinâmicas.
Outra coisa que merece destaque é a fotografia do filme, com seus contrastes e detalhes intimistas, ela dialoga com o estado emocional dos personagens e nos envolve. A comparação com produções não americanas ganhadoras do Oscar é inevitável; "Ainda estou aqui" traz o mesmo peso emocional e a mesma autenticidade que encontramos em "Amor" (2012) – que, aliás, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013. Gostei muito do uso dos espaços e do jeito que a cidade parece ser um reflexo das emoções de Eunice. A trilha sonora é discreta, mas eficaz, amplificando a intensidade das cenas, sem roubar o foco das atuações ou da narrativa.
"Ainda estou aqui" não é só a história da família do Marcelo Rubens Paiva, é a história de muitas famílias do Brasil que viveram os horrores da Ditadura e que, de uma forma ou de outra, teimam em deixar seus rastros ainda hoje.
Cláudia Felício (roteirista, escritora best-seller e crítica especializada em cinema)
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Claudia Felício
Sou roteirista, escritora best-seller e traduzida para a América Latina. Publiquei por grandes editoras como a Ediouro e a Editora Planeta do Brasil. Crítica especializada em cinema e tive uma coluna sobre o assunto no jornal “O Fluminense”, na qual entrevistei grandes nomes como o gladiador Russell Crowe. Eu também escrevo roteiros de TV e, entre outros, escrevi o programa “Almanaque dos Esportes”, exibido pelo SportTV2 e premiado pela Federation Internacionale Cinema Television Sportifs, de Milão, Itália.
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Olá Cláudia, adorei conhecê-la. Também estou no grupo do whats sobre marketing para escritores. Parabéns pela coluna! Reginaldo Silveira ou só Palhaço Osaskitto
Parabéns! Sucesso! Sou sua fã.